quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Useless.

Estou a dar um tempo a mim mesma. O meu cérebro parou de funcionar, fazendo-me ficar ainda mais vazia do que já me sinto. Desliguei-me do Mundo.
Preciso das ideias que não tenho e do tempo que nunca tive.
Agora, preciso de tudo.

A luz que me atingia os olhos era muito forte. Fechei a janela, na tentativa de afastá-la do meu olhar, mas ela era poderosa demais. Os meus olhos continuavam na posse daquele intenso brilho.. Descontente, abandonei o meu lugar e procurei outro sítio melhor. Mas todas aquelas tentativas falhadas queriam dizer alguma coisa. Apercebi-me que não era a luz que estava ali a mais... E vi-a como algo útil.
Ela estava apenas a tentar iluminar algo que perdera o brilho há muito tempo...
Mil pensamentos invadiram-me.
"Porque não abandonar tudo?"
Já não precisava de ideias, nem de tempo...

Agora, já não preciso de nada.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A última dança

Tinha chegado a casa depois da quimioterapia. Sentia-se fraca, cansada e farta de se olhar ao espelho e ver um aspecto pouco feminino. Careca. Sentia-se desmotivada para qualquer tipo de coisa.
Deitou-se na cama, com o gato preto ao seu colo, aquecendo-lhe as pernas e provocando-lhe um conforto que mais ninguém lhe sabia dar. Estava quase a adormecer.
Mas o tic-tac do relógio foi engolido pela música calma que de repente tocou.
Ambos se assustaram; ela não estava à espera daquilo. Levantou-se rapidamente, enquanto o receio se apoderava dela, fazendo com que o gato fugisse para outra divisão.
A sua sala tinha-se transformado numa pista de dança. Com luzes e muitos balões. Fez lhe lembrar do liceu. Nesse momento, sentiu-se nostálgica.
Um homem misterioso, apareceu do meio das luzes. Chamou-a.
Ela não conseguia ver o seu rosto ao longe.
Hesitou. Mas a curiosidade foi mais forte que ela.
Aproximou-se dele e os dois começaram a dançar. A música tocava e ela, sentia-se estranhamente bem.
Foram dez minutos de sorrisos e de trocas de olhar. Aquele ambiente fazia-lhe bem ao espirito. Há muito tempo que ela não se sentia assim.
Encostou-se ao ombro dele, ainda a dançar.
E ele finalmente soltou algumas palavras:
-No meio disto tudo, nem te perguntei o nome.
-Sou a Susana... e tu?- respondeu. Sentiu-se nova outra vez, como se fosse o seu primeiro encontro. Ela estava curiosa para saber o nome do homem com quem partilhou aquele momento tão especial que há muito não tinha.
-Olá Susana. Eu sou a Morte.
***
Eu gosto de pensar que a morte é assim. Dá-me jeito.
Assim, posso ficar descansada e pensar que, todos os que amei , tiveram um momento tão especial como este.
Tiveram a sua última dança.
É algo que me descansa.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Longe daqui.

Vou só fechar os olhos durante uns minutos.
Só me quero lembrar daqueles tempos. Vou pôr a minha memória em prática e ver até onde consigo chegar.
Se me lembro de cada pormenor. De cada palavra. Se me lembro do sabor da felicidade.
Estes minutos vão resumir o que passamos. Passo a passo.
De olhos fechados vê se com mais clareza. Vê se coisas que nunca aconteceram e que estão prestes a acontecer.
Sabe bem.
E imagino o que quiser. Eu própria construo o cenário e ponho a música de fundo. O meu Mundo de olhos fechados é melhor.
Dá-me só mais uns minutos, por favor. Não te preocupes. Não fico presa ao passado, porque mesmo que quisesse não conseguia. Vamos ser só eu e tu sentadas neste alpendre. A única diferença é que a minha alma não se encontra aqui. Vai se ausentar durante estes minutos.
Eu volto já.
E se perguntarem por mim...diz lhes que voei. Voei para bem longe daqui.

A viagem.


"If I just lay here...
Would you lie with me and just forget the world?"

(chasing cars, snow patrol)


Ao som da música, estava extremamente pensativa. A viagem era longa por isso fiquei a pensar na minha outra viagem.
A viagem que fiz com elas ao longo deste tempo, que passa cada vez mais rápido e me deixa com um formigueiro por todo o meu corpo sempre que penso nisso. Essa viagem, que tem de tudo e me faz querer ainda mais. Uma viagem que não é física, mas sim psicologicamente eterna.
Ainda há muito para fazer... e este tempo que é tão pouco, faz-nos remar contra a corrente.
Quero inventar tempo.
Quero dizer-lhes o quanto as amo, mas não consigo dizê-lo da melhor maneira.
Quero ficar para sempre assim. Assim, com esta sensação de ter sempre alguém ao meu lado e de mesmo assim, ter saudades. As saudades que não matam; que são inofensivas.
Eu quero tanto !

É como comer o melhor chocolate do Mundo e não o querer partilhar com o nosso irmão, porque é mesmo bom e o queremos poupar...
Por esta lógica, eu vou no fim do chocolate. Mas como qualquer outra pessoa normal, vou saborear o último pedaço, como se nunca o tivesse provado antes.

Será no fim que tudo se recompõe? Que nos apercebemos que já é tarde demais e que queremos voltar atrás ?
É que se assim for, ainda vamos a tempo.
A tempo de mudarmos tudo o que quisermos.

Só que eu não peço para mudar. Eu só quero ficar onde estou e sentir-me para sempre assim. Mesmo feliz.