segunda-feira, 22 de março de 2010

Cor indefinida.

"Estarei aqui à tua espera", disse ele.
Fechei os olhos enquanto ia embora. Já sabia aquele caminho de cor. Respirei fundo ou pelo menos tentei. Aquele ar era demasiado pesado para mim.
Deixei de acreditar nele e nas suas palavras que antes tinham um grande efeito em mim. Deixavam-me calma... Mas agora, não passavam de mentiras encaixadas umas nas outras.
Nós voltamos sempre de alguma maneira. Quer mortos, quer vivos... nós voltamos sempre de alguma maneira.
E hoje não ia ser diferente. Eu voltava e ele recebia-me de braços abertos, com um grande sorriso falso estampado na cara...
Era verdade, ele esperava sempre por mim. Mas não porque me queria voltar a ver. Apenas porque simplesmente não tinha para onde ir, nem com quem ficar. Por isso, esperava-me.
E este reencontro tornou-se monótono e deixou de ter valor para mim. Sempre a mesma cara, sempre as mesmas cores...
Agora, já não o procuro. Tento fugir daqueles braços que me agarram com muita força por terem medo da solidão. Tento encontrar mais para além daquelas mesmas cores. Tão fáceis, tão vazias .Tento esquecer aquela cara e aquele sorriso desesperado por alguém.
Agora fujo à procura do não igual.
Fujo à procura de uma cor indefinida.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Um pouco de música.

Essa canção que me costumavas cantar, fazia-me rir.
Não me cansava de ouvir-te, mesmo quando te esquecias da letra e começavas a improvisar.
Aliás, até preferia assim.
Uma canção só tua. Que apenas eu ouvia.
Eu gostava. Era diferente todos os dias, é por isso que me fazia rir.
Ainda dou por mim a relembrá-la e a cantá-la. Não consigo evitar.
Agora tu já não ma cantas. Tenho de ser eu a fazê-lo.
Tenho de ser eu a tentar improvisá-la, quando não sei a letra.
Admito...tenho saudades da tua.
A minha já não se pode chamar canção. Agora são só palavras meias cantadas.
Palavras meias esquecidas, que quando são pronunciadas damos-lhe o nome de canção, embora não o seja.
Só te peço que ma cantes uma última vez.
Só para me poder rir contigo durante uns minutos. Minutos meus e teus. De mais ninguém.
E para evitar que a esqueça, pelo menos durante uns anos.
Quem sabe, muitos e longos anos.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Endless

Para ela e para os seus quarenta e oito por cento de tempo.

O Para sempre não existe.
Não existe em mim, nem em ti.
O Para sempre é só mais uma forma de dizer durante muito tempo em palavras mais bonitas.
São só dez letras a representarem o infinito.
Eu não me acredito nelas...
Não acredito em nenhuma eternidade; não acredito em nenhum Para sempre.
O Para sempre é outro tipo de ponto final.
Mas posso-te prometer que te amo hoje e amanhã. E que, muito provavelmente, te vou amar durante muito mais tempo e que vamos ser felizes assim.
Mas podemos sempre esperar pelo nosso Para sempre.
Vamos esperá-lo até acabar...
E até aí, essas duas palavras perdem o efeito e deixam de representar o infinito. Passam a representar algo grande que teve um final feliz.
Amo-te.

quinta-feira, 11 de março de 2010

E Agora?

Habituei-me à musica que costumas ouvir e às palavras que costumas usar.
Habituei-me aos teus melhores e piores hábitos.
Habituei-me a ti de uma maneira que me impede de voltar a ser eu mesma.
E agora? E agora que foste embora e levaste tudo contigo?
Levaste a música que deixou de ser tua e que passou a ser nossa. E que agora, essas palavras cantadas foram deitadas fora e não sabem bem para onde ir. Apenas vagueiam à minha volta, a pedirem-me constantemente para voltarem a ter dono.
Mas elas não são minhas. Nem tuas. Elas agora não são de ninguém...
E agora, que as palavras que usavas passaram a ser palavras proibidas? Já não as digo e já não as ouço. Desapareceram do dicionário.
Quero que me respondas...e agora?
O que é que vou passar a ouvir?
Esta pergunta que dá comigo em doida, faz-me sofrer num silêncio. Profundo e talvez eterno.
Não me ensinaste a viver num mundo assim, em que as únicas palavras utilizadas não têm qualquer tipo de melodia.
Por isso diz-me... E agora?

segunda-feira, 1 de março de 2010

Sad Spring

Estava com frio naquele dia de Primavera. Era estranho, mas eu tinha boas razões para isso.
Passei a correr por flores. Brancas, bonitas.
Sorri, e continuei a correr, deixando também para trás aquele sorriso temporário.
Parei nos semáforos. Estava vermelho para os peões, e a tristeza ocupava grande parte de mim enquanto eu estava imóvel, a olhar para o nada.

Corri de volta às flores. Sorri para elas uma última vez e calquei-as. Já não me sentia sozinha.
As flores agora destruídas, sentiam-se exactamente como eu.
Voltei para os semáforos, não tão bem como pensava estar. A tristeza ainda fazia parte de mim.
Não podia desperdiçar aquele dia de Primavera, que tanto pedi para ter.
Simplesmente, ele não me podia fugir das mãos como fugiu uma vez, dando lugar à chuva...
E eu não queria voltar a vê-la cair.
A meio do caminho, lembrei-me que simplesmente não tinha destino de chegada.
Se não sabia para onde ir..como é que sabia que ainda não tinha chegado?
Se calhar, aquela era a minha meta. Se calhar estava destinada a sentar-me ali, no meio do chão, sozinha..
Por isso sentei-me, ainda carregada de tristeza. Não podia fazer nada quanto àquele dia de Primavera, que me ia escapando entre os dedos.
Limitei-me a vê-lo ir embora, enquanto me dava esperanças de que um dia iria voltar...